Mais uma sessão, mais um psicólogo e sempre nos deparamos: Como eram seus pais? Paulo Gustavo em um vídeo super bem humorado interpreta Dona Hermínia que se indigna com a psicóloga de Marcelina, sua filha, em que a profissional “culpa” a mãe. Apesar da indignação de Dona Hermínia, há qualquer relação em como os pais influenciam a construção do “eu” de seus filhos.
E qual mãe e pai não se sentiu culpado por alguma atitude do filho(a)? Qual mãe e pai não se preocupa com o futuro de seu filho(a)? Qual mãe e pai não se pergunta se está fazendo o melhor por seu filho(a)? Qual mãe e pai não se procura em características do filho(a)? Mas será que tudo quem é o filho(a) depende dos pais? Vamos buscar juntos uma compreensão sobre isto?
O “eu” é um processo contínuo ao longo de toda vida, assim, não está completamente acabado e estável, está sempre se “tornando”. E isso é igualmente verdadeiro para crianças em desenvolvimento e adultos em desenvolvimento que com quem elas interagem. Por um tempo é imprescindível que crianças pequenas necessitem de proteção e cuidados práticos, como dar banho e comida e colocar para dormir. No entanto, existe um aspecto que vai muito além dessas medidas práticas de sobrevivência de seu filho: o afeto. É o vínculo de apego (os estilos de apego foram tratados neste texto) que viabiliza a sobrevivência e os cuidados e, principalmente, alicerça as características do “eu” de seu filho. Mas isto quer dizer que os pais são os únicos responsáveis por quem o filho(a) se torna?
Resolvi escrever este texto ao perceber sofrimento, medo e culpa, entre amigos e pacientes maravilhosos em relação aos seus filhos. Excelentes mães e pais querem oferecer o melhor e, às vezes (ou o tempo todo), se cobram muito. Segundo Vygotsky, a relação de apego funciona apropriadamente na “zona de desenvolvimento proximal” da criança, as figuras de apego percebem os sinais da criança e organizam o seu comportamento para promover a proteção e cuidados. Isso significa que pais deveriam deixar as crianças fazerem o que elas podem fazer por si mesmas e fazer por elas o que elas não podem fazer. Esta é uma relação recíproca e sempre buscamos por reciprocidade. O melhor que você pode oferecer para seu filho é reciprocidade e amor. É dessa maneira que os pais auxiliam na criação do eu da criança e do mesmo modo, a interação com os filhos promove mudanças nos pais.
Outros aspectos a serem considerados para essa nossa proposta de compreensão, são de que as crianças recebem um número enorme de influências para construírem o próprio “eu”. Sua personalidade e sua subjetividade interagem com a comunidade, ambiente, entra em contato com outros exemplos, outras formas de se comportar e pensar ao longo de toda vida, seja na escola, entre amigos e até dentro da própria família. Elas deverão se adaptar e deveriam ser criadas para (e pelo) mundo. É desafiador aceitar que não se tem controle total de como os filhos irão expressar todo o esforço e amor dedicado em sua formação. Deveríamos normalizar que assim que dominamos algum aspecto na educação dos filhos, a criança muda e precisa de algo novo, algo para o qual os pais não estão preparados e para o qual eles próprios devem mudar. É uma dança permanente da interação interpessoal entre pais e filhos. Por isso é tão natural que não tenhamos certeza sobre o mais correto ao educar filhos. Não há certeza sobre a “coisa certa” a fazer pela criança. Não há manual ou receita.
O caminho viável é estar atento à criança. Antes mesmo de aprender a falar, a criança já se comunica por gestos e ações, por isto o melhor guia é se perguntar: o que meu filho(a) está querendo dizer com isso? E se não conseguir traduzir exatamente, não se culpe. Se errar em algum momento com seu filho, não se culpe, não tema, tente reparar, seja empático com a criança, mas não se esqueça de ser empático consigo mesmo(a).
Lembre-se: Talvez a coisa certa a fazer nem exista, o desenvolvimento da criança não depende apenas do pai e da mãe e Dona Hermínia tem razão em se indignar. Em um processo psicoterápico buscamos desvendar o alicerce do desenvolvimento desse “eu” mas a responsabilidade de quem este “eu” se torna é também reflexo de um sentido de organização pessoal. Somos protagonistas de quem nos tornamos. Seus filhos serão protagonistas de quem se tornarem!
GUIDANO, V. F. (1988). La complessità del Sé: Un approccio sistemico-processuale alla psicopatologia e alla terapia cognitiva. Torino: Bollati Boringhieri.
LANDA, SOPHIE & DUSCHINSKY, ROBBIE. (2013). Crittenden’s Dynamic-Maturational Model of Attachment and Adaptation. Review of General Psychology. 17. 326. 10.1037/a0032102.
VYGOTSKY, L.S. (2007). A formação social da mente. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes.
Vídeo citado: https://www.youtube.com/watch?v=PDRTaFY4u7g
Parar de fumar é uma das melhores coisas que alguém pode fazer para a sua saúde, não existem dúvidas quanto a isso.
Leia mais* Por Dra. Luiza Junqueira, nutróloga. Impactos clínicos dos Transtornos Alimentares Os transtornos da conduta alimentar são doenças psiquiátricas que compreendem um grupo amplo de distúrbios caracterizados por alterações do comportamento alimentar com graves complicações clínicas. São doenças multifatoriais que possuem fatores predisponentes como os biológicos, genéticos, psicológicos e socioculturais, assim como fatores precipitantes como … Continue lendo “Impactos clínicos dos Transtornos Alimentares”
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