Trama

Quando alguém adentra no consultório para falar de si, não adentra só…

* Por Vívian Hauck

“Tudo vive em mim. Tudo se entranha

Na minha tumultuada vida. E por isso

Não te enganas, homem, meu irmão,

Quando dizes na noite que só a mim me vejo.

Vendo-me a mim, a ti.”

– Trecho de ‘Poemas aos homens do nosso tempo – VI’ – Hilda Hilst

“Na vida psíquica do ser individual, o Outro é via de regra considerado enquanto modelo, objeto, auxiliador e adversário, e portanto a psicologia individual é também, desde o início, psicologia social, num sentido ampliado, mas inteiramente justificado.”

– Freud em Psicologia das Massas e Análise do Eu (1921)

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Quando alguém adentra no consultório para falar de si, não adentra só.

Desde o nascimento, um bebê humano é imerso em uma língua, uma cultura, uma história. A história de sua família, contada na língua materna. A história de seu nome. A história de quem veio antes dele. A história de seu país, de sua cidade. A história fantasiada do que esperam dele, de quem será, de como será. Falam com ele e por ele antes que ele fale por si, e é só assim que pode – ele mesmo – passar a falar. Não há sujeito que se crie sozinho.

Atravessado de saída por essas histórias, este sujeito vai encontrando outros em seu caminho. Com alguns se identifica, outros passam despercebidos. Ama alguns, outros nem tanto. Participa de alguns grupos, luta contra outros. Se posiciona em alguns lugares, em outros se silencia, se apaga. E assim vai construindo a trama de relações que o acompanha e, mais que isso, que o constitui.

É em relação também que sofre. Sofre pelo que falha, sofre pelo amor não correspondido, sofre quando se decepciona com aquele que acreditava ser perfeito, sofre por tentar se distanciar de um ou de outro e não conseguir. Sofre na tentativa de suprir as expectativas de outrem, aquelas que estavam lá desde o berço.  Sofre repetidamente pelas vezes em que se viu ali, naquela mesma situação que sempre o faz sofrer. “Isso sempre acontece comigo”, diz.

Talvez em algum momento afortunado se pergunte afinal “E por que é que isso sempre acontece comigo?”, “E o que eu quero? Eu quero mesmo ser isso que desejaram para mim?”. Adentra ao consultório. Traz consigo sua história e as marcas de todas essas relações. E ali, de forma singular, se encontra com a possibilidade de assumir sua história, suas responsabilidades, seus desejos, sua alteridade, seus limites. O que será que é possível fazer a partir e com tudo isso que te construiu, que te fez chegar até aqui?

Pode parecer um tanto assustador, mas faço a aposta de que vale a pena a viagem.

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“Cada indivíduo é um componente de muitos grupos, tem múltiplos laços por identificação, e construiu seu ideal do Eu segundo os mais diversos modelos. Assim, cada indivíduo participa da alma de muitos grupos, daquela de sua raça, classe, comunidade de fé, nacionalidade etc., e pode também erguer-se além disso, atingindo um quê de independência e originalidade.”

– Freud em Psicologia das Massas e Análise do Eu (1921)

Pandemia de medo e covid-19: impacto na Saúde Mental e possíveis estratégias.

Para entender as repercussões psicológicas e psiquiátricas de uma pandemia, as emoções envolvidas, como medo e raiva, devem ser consideradas e observadas.

* Por Fernanda Rezende

“PANDEMIC FEAR” AND COVID-19: MENTAL HEALTH BURDEN AND STRATEGIES.

Para entender as repercussões psicológicas e psiquiátricas de uma pandemia, as emoções envolvidas, como medo e raiva, devem ser consideradas e observadas. O medo é um mecanismo de defesa animal adaptável que é fundamental para a sobrevivência e envolve vários processos biológicos de preparação para uma resposta a eventos potencialmente ameaçadores. No entanto, quando é crônico ou desproporcional, torna-se prejudicial e pode ser um componente essencial no desenvolvimento de vários transtornos psiquiátricos. Em uma pandemia, o medo aumenta os níveis de ansiedade e estresse em indivíduos saudáveis e intensifica os sintomas daqueles com transtornos psiquiátricos pré-existentes.

Durante as epidemias, o número de pessoas cuja saúde mental é afetada tende a ser maior que o número de pessoas afetadas pela infecção. Tragédias anteriores mostram que as implicações para a saúde mental podem durar mais tempo e ter maior prevalência que a própria epidemia e que os impactos psicossociais e econômicos podem ser incalculáveis se considerarmos sua ressonância em diferentes aspectos.

Outro estudo relatou que pacientes infectados com COVID-19 (ou suspeita de infecção) podem sofrer intensas reações emocionais e comportamentais, como medo, tédio, solidão, ansiedade, insônia ou raiva, como já foi relatado em situações semelhantes no passado. Tais condições podem evoluir para transtornos, sejam depressivos, ansiedade (incluindo ataques de pânico e estresse pós-traumático), psicóticos ou paranoides, e podem até levar ao suicídio. Essas manifestações podem ser especialmente prevalentes em pacientes em quarentena, cujo sofrimento psicológico tende a ser maior. Em alguns casos, a incerteza sobre infecção e morte ou sobre infectar familiares e amigos pode potencializar estados mentais disfóricos.
Mesmo entre pacientes com sintomas comuns de gripe, o estresse e o medo devido à semelhança das condições podem gerar sofrimento mental e piorar os sintomas psiquiátricos.

Embora alguns protocolos tenham sido estabelecidos, a maioria dos profissionais de saúde que trabalha em unidades de isolamento e hospitais não é treinada para prestar assistência em saúde mental durante pandemias, nem recebe atendimento especializado.

O fornecimento de primeiros socorros psicológicos é um componente de assistência essencial para populações vítimas de emergências e desastres, mas não existem protocolos ou diretrizes universais eficazes para as práticas de apoio psicossocial.

Especificamente para esse novo cenário da COVID-19, Xiang et al. Sugere que três fatores principais sejam considerados ao desenvolver estratégias de saúde mental:

  • Equipes multidisciplinares de saúde mental (incluindo psiquiatras, enfermeiros psiquiátricos, psicólogos clínicos e outros profissionais de saúde mental);
  • Comunicação clara envolvendo atualizações regulares e precisas sobre o surto de COVID-19;
  • Estabelecimento de serviços seguros de aconselhamento psicológico (por
    exemplo, via dispositivos ou aplicativos eletrônicos).

Por fim, é extremamente necessário implementar políticas públicas de saúde mental em conjunto com estratégias de resposta a epidemias e pandemias antes, durante e após o evento. Recentemente a OMS e o Centro de Controle de Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) publicaram uma série de recomendações psicossociais e de saúde mental. Isso está de acordo com os dados longitudinais da OMS que demonstram que os fatores psicológicos estão diretamente relacionados às principais causas de morbimortalidade no mundo.

Referência Bibliográfica:
ORNEL, F. et al. Pandemia de medo e COVID-19: Impacto na Saúde Mental e
possíveis estratégias. Debates em psiquiatria, Rio de Janeiro. N 02, p. (12-17),
Abril – junho 2020.

Mudança de hábitos: castigo ou oportunidade?

A obesidade é uma doença crônica, multifatorial e muitos são os fatores determinantes.

* Por Laís helena pereira

Mudança de hábitos: castigo ou oportunidade?

Sabemos que a pessoa com obesidade sofre muito preconceito em nossa sociedade, além de enfrentar diversos desafios no cotidiano. Muitas vezes, pode ser julgado e até mesmo proferir auto julgamentos a respeito de sua capacidade de ter hábitos saudáveis, de ter auto controle e comportar-se de maneira diferente.

Entretanto, é importante lembrar que a obesidade é uma doença crônica, multifatorial e muitos são os fatores determinantes como: fatores genéticos e metabólicos, aspectos socioculturais, hábitos, influências históricas e ambientais e fatores psíquicos. Portanto, não é justo e nem saudável considerar que a obesidade seja, única e exclusivamente, uma questão de “falta de vergonha na cara”, “desleixo” ou descuido no autocuidado.

Compreender a doença de tal maneira contribui para a construção de um significado reducionista que coloca a pessoa com obesidade como culpada da situação, afinal fez algo errado e não consegue cuidar de si mesma e assim, o tratamento, torna-se um castigo, uma punição. Com isso, o prejuízo recai sobre a própria pessoa, afinal, as mudanças que precisam ser feitas tornam-se ainda mais difíceis e sofridas, pois carregam o peso de um castigo.

Um tratamento efetivo deve considerar tudo o que pode estar associado a causa da obesidade na vida de cada indivíduo e não apenas responsabilizar algo ou alguém. Compreender a realidade e aceitá-la são passos importantes para o início de uma longa e efetiva caminhada em busca da redução do peso, qualidade de vida e bem estar. A busca pelo tratamento adequado não é sinal de fracasso, mas sim uma oportunidade de viver melhor e adquirir ferramentas para enfrentar a obesidade.

Ressignificar o tratamento, abandonando a ideia de castigo e punição para oportunidade, te ajudará a aderir às mudanças necessárias e realizá-las com mais leveza e satisfação! Afinal, os benefícios serão seus, só você sabe como é viver assim! Se mudanças são necessárias, que bom que elas podem acontecer, faça isso por você!

Aproveite a sua oportunidade!

Por que falar sobre AVC?

Acidente Vascular Cerebral (AVC), popularmente conhecido como Derrame, é o termo que define doenças que cursam com lesão súbita ao Sistema Nervoso Central, de causa vascular.

* Por dra. eliza teixeira da rocha

Outubro é o mês escolhido para a Campanha Mundial de Conscientização do AVC. Porém, esse é um assunto que deve ser conversado diariamente com nossos pacientes, familiares e amigos. O motivo é que o AVC pode acontecer com qualquer pessoa, a qualquer hora e em qualquer lugar. Dados recentes da World Stroke Organization, organização internacional que coordena as ações de educação, prevenção e tratamento do AVC, demonstram que a cada 4 pessoas no mundo todo, uma terá um AVC ao longo de sua vida.

E mais, o AVC é a segunda causas de morte no mundo e a primeira causa de incapacidade. Portanto, é essencial reconhecer o AVC, saber que AVC tem tratamento e tomar medidas para prevenir o AVC. E é sobre isso que vamos conversar um pouco agora.

AVC

Acidente Vascular Cerebral (AVC), popularmente conhecido como Derrame, é o termo que define doenças que cursam com lesão súbita ao Sistema Nervoso Central, de causa vascular. Ou seja, ocorre por um distúrbio do suprimento sanguíneo, seja por redução ou ausência de fluxo sanguíneo. Seu conceito inclui AVC isquêmico que representa o tipo mais comum, e ocorre por obstrução de um vaso que irriga o cérebro e AVC hemorrágico, causado por sangramento dentro ou ao redor do cérebro, o que também determina uma redução do fluxo sanguíneo naquele local.

AVC tem tratamento?

Nos últimos 25 anos o AVC passou de uma doença sem tratamento, em que assistíamos à evolução natural sem poder fazer qualquer intervenção, para uma situação médica com tratamento efetivo, em que se consegue mudar a evolução natural dessa doença catastrófica.

Entre os tratamentos disponíveis está a Trombólise Intravenosa e Trombectomia Mecânica, que tem como objetivo destruir o coágulo que impede o fluxo sanguíneo no cérebro. Esse tratamento é aplicável apenas aos pacientes com AVC do tipo isquêmico. Porém é essencial para isso que o paciente seja levado rapidamente para um hospital! O tempo para se iniciar o tratamento desde o início dos sintomas são 4.5 horas para a Trombólise Intravenosa e um tempo um pouco maior para a Trombectomia Mecânica. Antes de se iniciar esse tratamento, é necessário avaliar vários critérios para definir se o paciente com AVC poderá receber esse tratamento. E para isso o hospital deverá contar com uma equipe especializada no tratamento de AVC. Mas independentemente do tempo dos sintomas, todos pacientes deverão ser levados para o hospital. Existem outros cuidados, tanto para AVC isquêmico como para o AVC hemorrágico que tem como objetivo reduzir o tamanho da área de lesão cerebral e logo reduzir as sequelas que essa doença poderá determinar. Além disso, será durante a internação que se iniciará a reabilitação e os exames para entender qual a causa do AVC.

Reabilitação é essencial. O paciente com algum déficit após um AVC poderá melhorar em semanas a meses. Mas para isso, o trabalho da Fisioterapia, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional e Psicologia são fundamentais. E quanto antes iniciado a reabilitação, maiores as chances de recuperação.

É importante entender o AVC como consequência de alguma perturbação no fluxo sanguíneo cerebral. Definir a causa dessa alteração do fluxo sanguíneo através de exames complementares, incluindo estudo cardíaco e vascular, é essencial para ser planejado um tratamento eficaz e seguro, com objetivo de reduzir o risco de um novo episódio de AVC.

Quais os sintomas de AVC?

E já que falamos que AVC é uma condição comum, que tem tratamento eficaz e precisa ser reconhecido rapidamente, quais são os sinais e sintomas que o paciente apresenta quando está apresentando um AVC? São eles: perda de força ou sensibilidade em face, braço, perna – principalmente quando apenas de um lado do corpo; fala confusa ou inapropriada; distúrbio da visão; alteração da maneira de caminhar, desequilíbrio, prejuízo na coordenação motora ou vertigem; dor de cabeça de forte intensidade sendo todos esses sintomas de início agudo, ou seja, que se iniciaram em poucos segundos a minutos. Na presença de qualquer um desses sintomas, o SAMU deverá ser acionado pelo telefone 192. Aja rápido! Tempo é cérebro! Não fique em casa! Procure um hospital!

Como prevenir o AVC?

Porém, ainda mais importante que tratar o AVC, é prevenir que ele aconteça. Um grande estudo que aconteceu em 22 países, acompanhando paciente com e sem AVC, demonstrou que se pudéssemos corrigir os fatores de risco para o AVC, evitaríamos 90% dos casos de AVC. Entre essas intervenções que poderiam reduzir substancialmente os casos de AVC, está o controle adequado da Hipertensão Arterial, cessar tabagismo, promover atividade física e uma dieta saudável.

Também essencial é o acompanhamento médico regular para iniciar as intervenções citadas anteriormente quando necessárias e a realização de exames complementares com objetivo de reverter condições clínicas que aumentam o risco para AVC.

Referências:

Referência:

1 – https://www.world-stroke.org/;

2 – https://www.stroke.org/en/about-the-american-stroke-association/world-stroke-day;

3 – William J. Powers. Guidelines for the Early Management of Patients With Acute Ischemic Stroke: 2019 Update to the 2018 Guidelines for the Early Management of Acute Ischemic Stroke: A Guideline for Healthcare Professionals From the American Heart Association/American Stroke Association 2019.

01 ano de Clínica Rezende

Assista ao vídeo do Dr. Alexandre de Rezende, psiquiatra da Clínica Rezende, falando sobre o primeiro ano de trabalho da Clínica.

Assista ao vídeo do Dr. Alexandre de Rezende, psiquiatra da Clínica Rezende, falando sobre o primeiro ano de trabalho da Clínica: repleto de realizações, conquistas e desafios.

Tratamentos adequados, mais efetivos e para os mais diversos transtornos mentais, atendimento humanizado e equipe multidisciplinar.

Manejo psicológico de pacientes com ideação suicida

Diante de dados tão alarmantes, nós psicólogos devemos estar preparados para receber em nossos atendimentos clínicos pessoas que já tentaram e/ou pensaram sobre isso.

* Por Laís Pereira

Manejo psicológico de pacientes com ideação suicida.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde cerca de 1 milhão de pessoas cometem suicídio anualmente, estima-se que para cada suicídio ocorrido haja cerca de 20 tentativas. O suicídio encontra-se entre as 10 principais causas de morte em todo o mundo e a projeção para 2020 é de 1,5 milhões de mortes por autoextermínio.

Diante de dados tão alarmantes, nós psicólogos devemos estar preparados para receber em nossos atendimentos clínicos pessoas que já tentaram e/ou pensaram sobre isso.

Meu paciente pensa em se matar, o que fazer?

Podemos considerar que existem “estágios” no desenvolvimento da intenção suicida, iniciando-se, geralmente, com a imaginação ou a contemplação dessa ideia. Em seguida, ocorre o desenvolvimento de um plano de como se matar que pode ser implementado por meios de ensaios realísticos ou imaginários e por fim, a ação destrutiva concreta. Contudo, não podemos esquecer que o resultado de um ato suicida depende de uma variedade de fatores e nem sempre envolve um planejamento.

Em geral, paciente com ideação suicida apresentam algumas características, são elas:

Ambivalência: querem a morte e também querem viver. Isso acontece porque ao mesmo tempo em que há sofrimento psíquico há também outros fatores* na vida do indivíduo que o trazem satisfação e motivação para viver.

* Essa é a condição que nos permite trabalhar a prevenção do suicídio.

Impulsividade: como qualquer outro impulso, o impulso de cometer suicídio pode ser transitório e durar alguns minutos ou horas e normalmente são desencadeados por eventos negativos do dia-a-dia.

Rigidez/Constrição: os pensamentos passam a ser dicotômicos, do tipo tudo ou nada, ou seja, a pessoa tem seus pensamentos, sentimentos e comportamentos restritos ao suicídio, tendo boa parte do seu tempo tomado por esse funcionamento e restringindo a solução do que ocorre ao suicídio, não sendo capaz de perceber outras maneiras de solucionar o problema. São pensamentos rígidos e drásticos.

Sentimentos de depressão, desesperança, desamparo e desespero.

A maioria das pessoas com ideias de morte comunica seus pensamentos e intenções, frequentemente dão sinais e fazem comentários sobre querer morrer, sentimento de não valer nada e etc. Esses pedidos de ajuda não podem ser ignorados.

Diante disso, a primeira conduta terapêutica perante uma ideação suicida deve ser avaliar o risco da situação considerando os estágios e características citados acima. Quando o risco é alto, ou seja, o paciente apresenta desespero, tormento psíquico intolerável, não vê saída da situação que se encontra, tentativa de suicídio prévia, abuso/dependência de substâncias, tem um plano definido para se matar e meios para fazê-lo e já tomou providências para o ato como se despedir das pessoas e escrever cartas, é preciso agir de forma IMEDIATA de forma a manter a pessoa segura, muitas veze sendo necessária a internação. A segurança do paciente toma precedência sobre a confidencialidade e portanto, a quebra do sigilo profissional contatando familiares e amigos é necessária e prevista no Código de Ética Profissional do Psicólogo.

Quanto ao paciente é de suma importância acolher, ouvir e mostrar a ele que o setting terapêutico é um ambiente seguro, de confiança e não julgamento. As sessões devem ocorrer com menor espaço entre uma e outra quando o risco de suicídio for alto e também é aconselhável realizar contatos telefônicos entre as sessões. Uma vez em segurança, os objetivos terapêuticos passam a ser o desenvolvimento de um plano de segurança ou plano de crise junto com o paciente. Durante sua execução é dada atenção a identificação de situações (gatilhos) que costumam desencadear ideação suicida e as estratégias que podem ser desenvolvidas (coping) para enfrentá-los. Algumas estratégias estão associadas a maneiras de permanecer longe de objetos que possam ser usados para se autoagredir, atividades que costumam reduzir a ansiedade e desenvolvimento de uma lista de boas razões para continuar vivo. Dessa forma, o objetivo do tratamento e do plano de segurança será reduzir a impulsividade, diminuir a ambivalência valorizando o desejo pela vida e ampliar a percepção sobre os fatos através da flexibilização cognitiva e diminuição dos pensamentos dicotômicos.

A família do paciente

Por vezes, os familiares podem ficar assustados e resistentes às orientações dos profissionais por serem tomados por sentimentos contraditórios como: preocupação, medo, raiva, esperança, banalização, culpa, cansaço, entre outros. Por isso, o profissional deve adotar uma postura de apoio emocional e prático.

Ao mesmo tempo em que amigos e familiares se preocupam, eles podem se sentir muito desconfortáveis diante do comportamento do paciente. É normal a ambivalência também acontecer com eles, é normal não saber ao certo como agir e também dizer ou fazer algo e depois arrepender. É uma situação de crise que exige mudanças na rotina e cuidados intensivos, funções para as quais não estavam preparados e portanto, pode haver insegurança, cansaço e desgaste emocional. Dante disso,é importante que os familiares busquem suporte e procurem profissionais que poderão ajudá-los. Dessa forma, será possível compreender os pensamentos e sentimentos que os deixa apreensivos e confusos e buscar um entendimento mais realista e as melhores soluções possíveis. Além disso, é possível desenvolver melhor comunicação entre os familiares e destes com o paciente.

Toda essa comunicação entre profissionais e familiares e amigos é feita com o intuito de se criar uma rede de proteção, por isso, ela não acontece apenas com pacientes menores de idade. Caso o paciente não concorde com essa proposta, ainda assim o contato deve ser realizado e o risco de suicídio deve ser exposto.

É necessários que as informações sejam objetivas e claras, sem eufemismos sobre o risco de suicídio e é importante ressaltar que nessa comunicação o psicólogo deve ter muito tato no repasse das informações e ao responder possíveis questionamentos dos familiares e amigos pois a intimidade do paciente deve ser preservada. Por fim, é necessário que a família e amigos estabeleçam um ambiente de compreensão e apoio que esteja pronto para a ação caso seja necessário.

Todos os esforços vão em direção da prevenção pois a vida vale muito.

Referências:

Botega, J. N. (2015) Crise Suicida Avaliação e Manejo.

Conselho Federal de Psicologia (2005) Código de Ética Profissional do Psicólogo.

Organização Mundial de Saúde (2004) El suicidio, un problema de salud pública enorme y sin embargo prevenible, según la OMS. Recuperado em: https://www.who.int/mediacentre/news/releases/2004/pr61/es/

Setembro Amarelo e prevenção do suicídio

O suicido é um sério problema de saúde pública, dessa forma a prevenção não é uma tarefa fácil. Uma estratégia nacional de prevenção vem sendo organizada no Brasil desde 2015, nomeada de Setembro Amarelo…

* Por Fabrício de Oliveira

O suicido é um sério problema de saúde pública, dessa forma a prevenção não é uma tarefa fácil. Uma estratégia nacional de prevenção vem sendo organizada no Brasil desde 2015, nomeada de Setembro Amarelo.

  • De acordo com dados do Ministério da Saúde, no mundo, o suicídio é a segunda causa de morte entre jovens entre 15 a 29 anos. Um indivíduo em sofrimento dá alguns sinais e seus familiares ou pessoas próximas devem estar atentos, pois isso pode ser o primeiro e o mais importante passo. Além disso, é importante sabermos que existe ajuda disponível e extremamente necessária nesse caso.
  • Os sinais dados pelas pessoas que sofrem não devem ser interpretados como ameaças nem como chantagens emocionais, mas sim como avisos de alerta para um risco real. Por isso, é muito importante ser compreensivo, além de estar disposto a conversar e escutar a pessoa sobre o porquê de tal comportamento, criando um ambiente tranquilo, sem julgar a pessoa afetada.
  • Conversar abertamente com a pessoa sobre seus pensamentos suicidas não a influenciará a completá-los. Ao falar sobre esse assunto, você pode descobrir como ajudá-la a suportar sentimentos muitas vezes angustiantes e incentivá-la a procurar apoio profissional.

Alguns sinais importantes que a pessoa com risco suicida apresenta:

  • Preocupação com sua própria morte ou falta de esperança.
  • Expressão de ideias ou de intenções suicidas.
  • Se isolam ainda mais.

Alguns fatores de risco para o suicídio

Transtornos mentais (em participação decrescente nos casos de suicídio):

  • transtornos do humor (ex.: depressão);
  • transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de substâncias psicoativas (ex.: alcoolismo);
  • transtornos de personalidade (principalmente borderline, narcisista e anti-social);
  • esquizofrenia;
  • transtornos de ansiedade;
  • comorbidade potencializa riscos (ex.: alcoolismo + depressão).

Sociodemográficos:

  • sexo masculino;
  • faixas etárias entre 15 e 35 anos e acima de 75 anos;
  • estratos econômicos extremos;
  • residentes em áreas urbanas;
  • desempregados (principalmente perda recente do emprego);
  • aposentados;
  • isolamento social;
  • solteiros ou separados;

Condições clínicas incapacitantes:

  • doenças orgânicas incapacitantes;
  • dor crônica;
  • lesões desfigurantes perenes;
  • epilepsia;
  • trauma medular;
  • neoplasias malignas;

Atenção! Os principais fatores de risco para o suicídio são:

  • história de tentativa de suicídio;
  • transtorno mental (principalmente: transtorno afetivo bipolar, depressão grave, esquizofrenia, transtorno de personalidade e dependência química).

DIANTE DE UMA PESSOA SOB RISCO DE SUICÍDIO, O QUE SE DEVE FAZER:

  • Encontre um momento apropriado e um lugar calmo para falar sobre suicídio com essa pessoa. Deixe-a saber que você está lá para ouvir, ouça-a com a mente aberta e ofereça seu apoio.
  • Incentive a pessoa a procurar ajuda de profissionais de serviços de saúde, de saúde mental, de emergência ou apoio em algum serviço público. Ofereça-se para acompanhá-la a um atendimento.
  • Se você acha que essa pessoa está em perigo imediato, não a deixe sozinha. Procure ajuda de profissionais de serviços de saúde, de emergência e entre em contato com alguém de confiança, indicado pela própria pessoa.
  • Se a pessoa com quem você está preocupado(a) vive com você, assegure-se de que ele(a) não tenha acesso a meios para provocar a própria morte (por exemplo, pesticidas, armas de fogo ou medicamentos) em casa.
  • Fique em contato para acompanhar como a pessoa está passando e o que está fazendo.
  • Reconheça o suicídio como uma escolha, mas não a aceite como uma escolha “normal”.

DIANTE DE UMA PESSOA SOB RISCO DE SUICÍDIO, O QUE NÃO SE DEVE FAZER:

Não condenar/ julgar:

  • “Isso é covardia.”
  • “É loucura.”
  • “É fraqueza.”

 Não banalizar:

  • “É por isso que quer morrer? Já passei por coisas bem piores e não me matei.”

Não opinar:

  • “Você quer chamar a atenção.”
  • “Te falta Deus.”
  • “Isso é falta de vergonha na cara.”

Não dar sermão:

  • “Tantas pessoas com problemas mais sérios que o seu, siga em frente.”

Não falar simplesmente frases de incentivo vazias:

  • “Levanta a cabeça, deixa disso.”
  • “Pense positivo.”
  • “A vida é boa.”

Onde buscar ajuda:

  • Serviços de Saúde:

CAPS e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da família, Postos e Centros de Saúde).

  • Emergência Emergência:

SAMU 192, UPA, Pronto Socorro e Hospitais.

  • Centro de Valorização da Vida:

CVV 181 (ligação gratuita) ou www.cvv.org.br para chat, Skype, e-mail para falar com os voluntários que dão suporte emocional e prevenção do suicídio a todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo 24 horas todos os dias.

  • Profissionais de saúde mental de sua confiança.

Entrevista Motivacional

A Entrevista Motivacional consiste num modelo de abordagem com vistas à promoção de mudanças de comportamento para um estilo de vida mais saudável. Clique para ler mais.

* Por Alexandre de Rezende

Entrevista motivacional

As pessoas mudam de várias maneiras e por inúmeros motivos. Assim começa o prefácio do livro “Entrevista motivacional – Preparando as pessoas para a mudança de comportamentos adictivos”, dos autores Miller e Rollnick. A Entrevista Motivacional consiste num modelo de abordagem com vistas à promoção de mudanças de comportamento para um estilo de vida mais saudável. Ou seja, a Entrevista Motivacional é uma abordagem criada para ajudar o paciente a desenvolver um comprometimento e a tomar a decisão de mudar.

Esse modelo foi desenvolvido pelos psicólogos William Miller e Stephen Rollnick na década de 1990, inicialmente para o aconselhamento relacionado ao uso e abuso de álcool e outras drogas, mas atualmente tem sido utilizado no contexto de diversas doenças crônicas. O grande objetivo dessa abordagem é evocar as motivações internas do paciente para promover as mudanças comportamentais de acordo com os interesses que ele tem na melhoria de sua saúde.

Alguns conceitos são primordiais na Entrevista Motivacional: motivação, prontidão para a mudança e ambivalência.

A motivação é um estado de prontidão ou de avidez para a mudança, que pode oscilar de tempos em tempos ou de uma situação para outra. Essa condição também pode ser influenciada por fatores externos ou até mesmo por outras pessoas.

Já a ambivalência, ou seja, a existência de sentimentos conflitantes e opostos em relação à mudança é considerada normal. A força é maior quando um paciente quer mudar, não só para evitar as consequências do comportamento prejudicial, mas também quando encara a mudança como um caminho para alcançar uma vida melhor, mais prazerosa, longa e saudável. Evocar no paciente emoções positivas, como esperança, amor e alegria, e cognições, como autoeficácia e aceitação, tendem a ampliar suas possibilidades pessoais de considerar e experimentar a mudança. Assim sendo, a entrevista motivacional pretende ajudar o indivíduo a resolver essa ambivalência e colocar a pessoa em movimento no caminho para a mudança.

Os psicólogos James Prochaska e Carlo Di Clemente (1982) descreveram uma série de estágios pelos quais as pessoas passam no curso da modificação de um problema.

Estágios

Pré-contemplação: a pessoa não está considerando a possibilidade de mudança, porque nem sequer identificou ter um problema.

O que fazer? Aumentar a percepção do paciente sobre os riscos e problemas do comportamental atual.

Contemplação: a pessoa pensa na possibilidade de mudar seu comportamento. Mas esse período é caracterizado pela ambivalência, o indivíduo fica dividido entre os motivos de preocupação e as razões para manutenção daquele comportamento.

O que fazer? “Inclinar a balança” – evocar as razões para a mudança, os riscos de não mudar.

Preparação para a ação: a pessoa desenvolve um plano ou estratégias para a mudança de comportamento. Esse período é como uma janela que se abre para a oportunidade de mudança.

O que fazer? Ajudar o paciente a determinar a melhor linha de ação a ser seguida na busca da mudança.

Ação: a pessoa se engaja em ações específicas para chegar a uma mudança.

O que fazer? Ajudar o paciente a dar passos rumo à mudança.

Manutenção: a pessoa tem o desafio de manter a mudança obtida e evitar a recaída, isto é, o retorno ao comportamento anterior. A manutenção de uma mudança pode exigir um conjunto de habilidades diferentes das que foram primeiramente necessárias para a obtenção da mudança.

O que fazer? Ajudar o paciente a identificar e a utilizar estratégias de prevenção de recaída.

Como já dito, a Entrevista Motivacional enfatiza a motivação do paciente para o processo necessário de mudança e entende que o estilo do terapeuta tem um papel fundamental. Assim sendo, a essência da Entrevista Motivacional implica na presença de três atitudes preponderantes do profissional da saúde em relação com paciente: colaboração, evocação e respeito pela autonomia do indivíduo. O profissional deve ser unir a seu paciente, formando uma equipe, e gentilmente oferecer e compartilhar sua experiência, e em parceria com ele, explorar e resolver a ambivalência. A responsabilidade pela mudança é deixada para o paciente.

A Entrevista Emocional é composta por 5 princípios gerais:

  1. expressar empatia

A atitude que fundamenta o princípio da empatia pode ser chamada de aceitação. Isso significa acolher, aceitar e entender o que o paciente diz, sem fazer julgamentos a seu respeito.

  1. desenvolver discrepância

Mostrar para o paciente a discrepância entre o seu comportamento, suas metas pessoais e o que pensa que deveria fazer para atingir essa meta.

  1. 3. evitar a confrontação

Abordagens de confronto tornam o paciente resistente à intervenção.

  1. lidar com a resistência do paciente

Se a ambivalência e a resistência para a mudança de comportamento podem ser consideradas normais, a atitude do profissional deve ser no sentido de levar o paciente a considerar novas informações e alternativas.

  1. fortalecer a autoeficácia do paciente

Autoeficácia refere-se à crença de uma pessoa em sua capacidade de realizar e de ter sucesso em uma tarefa específica.

 

Referências bibliográficas:

FIGLIE, N.B.; SALES, C. Capítulo 23 – Entrevista Motivacional. In: DIEHL, A.; CORDEIRO, D.C.; LARANJEIRA, R. Dependência Química: prevenção, tratamento e políticas públicas. – 2 ed. – Porto Alegre: Artmed, 2019.

MICHELI, D.; FORMIGONI, M.L.O.S.; CARNEIRO, A.P.L Capítulo 2 – Como motivar usuários de risco. In: SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS. SUPERA: Sistema para detecção do uso abusivo e dependência de substâncias psicoativas. Intervenção Breve: módulo 4. – 11 ed. – Brasília, 2017.

MILLER, W.R.; ROLLNICK, S. Entrevista Motivacional: preparando pessoas para a mudança de comportamentos adictivos. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001.

Automedicação e seus riscos

A automedicação é uma prática caracterizada fundamentalmente pela iniciativa de uma pessoa, ou de seu responsável…

* Por Fernanda Rezende

A automedicação é uma prática caracterizada fundamentalmente pela iniciativa de uma pessoa, ou de seu responsável, em obter e utilizar um produto que acredita lhe trazer benefícios no tratamento de uma doença ou alívio de sintomas. Assim, a orientação médica é substituída inadvertidamente por sugestões de medicamentos provenientes de pessoas não autorizadas, entre estas, familiares, amigos ou balconistas em farmácias. Outra forma de automedicação seria a reutilização de receitas.

As razões pelas quais as pessoas se automedicam são inúmeras. A propaganda desenfreada e massiva de determinados medicamentos contrasta com as tímidas campanhas que tentam esclarecer os perigos da automedicação. A dificuldade e o custo de se conseguir uma opinião médica, a limitação do poder prescritivo, restrito a poucos profissionais de saúde, o desespero e a angústia desencadeados por sintomas ou pela possibilidade de adquirir uma doença; o acesso a algumas informações pela internet ou outros meios de comunicação, a falta de regulamentação e fiscalização daqueles que vendem e a falta de programas educativos sobre os efeitos muitas vezes irreparáveis da automedicação, são alguns dos motivos que levam as pessoas a utilizarem medicamentos mais próximos.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que, em todo o mundo, mais de 50% de todos os medicamentos receitados são dispensados ou vendidos de forma inadequada. Cerca de um terço da população mundial tem carência no acesso a remédios essenciais e metade dos pacientes tomam medicamentos de forma inadequada (1). No Brasil, a prevalência de automedicação na população adulta em alguns estudos de boa qualidade metodológica foi de 35% (2). Aproximadamente, um terço das hospitalizações no Brasil se devem ao uso incorreto de medicamentos (3).

Os riscos da automedicação para o indivíduo são o atraso no diagnóstico ou o diagnóstico incorreto, devido ao mascaramento dos sintomas, possibilitando o agravamento do problema, a escolha do medicamento inadequado, a administração incorreta, dosagem inadequada e uso excessivamente curto ou prolongado da medicação, a dependência, reações alérgicas e intoxicações. Além do impacto sobre a vida humana, as reações adversas a medicamentos também influenciam significativamente nos custos despendidos com saúde.

Em uma sociedade, os hábitos de consumo de medicamentos podem ser afetados positivamente pelas políticas nacionais quando promovem a regulamentação do suprimento e a disponibilização racional de medicamentos essenciais, pressupondo o acesso ao diagnóstico e prescrição por profissionais habilitados. Por outro lado, o consumo pode ser influenciado negativamente pelo acesso sem barreiras e pela promoção e publicidade de medicamentos, que muitas vezes estimulam a utilização desnecessária e irracional. Os governos precisam conhecer as razões e as formas de uso irracional de medicamentos, é necessário ter informações específicas para verificar a magnitude desse problema, identificar estratégias e monitorar o impacto das possíveis intervenções.

Não há como acabar com a automedicação, talvez pela própria condição humana de testar e arriscar decisões. Há, contudo, meios para minimizá-la. Programas de orientação para profissionais de saúde, balconistas e população em geral, além do estímulo a fiscalização apropriada, são fundamentais nessa situação.

Medicamentos Psicotrópicos

Os medicamentos psicotrópicos têm como principal objetivo o tratamento de pessoas em sofrimento psíquico, contudo, são prescritos e utilizados para as mais diversas situações. O uso exacerbado desses medicamentos é um fato na sociedade atual, gerando preocupação entre as autoridades de saúde, pois é sabido que a utilização prolongada dos psicofármacos, além de efeitos colaterais indesejáveis, alguns podem provocar dependência química e geram dificuldades quanto ao término do tratamento.

Segundo informações obtidas no Relatório do Departamento Internacional de Controle de Narcóticos, da Organização das Nações Unidas (ONU), apesar do grande número de pessoas em sofrimento psíquico, o uso de medicamentos controlados e específicos vem aumentando consideravelmente.

A sociedade atual apresenta características diferenciadas e estas trazem implicações variadas sobre os sujeitos. O ritmo de vida acelerado, as cobranças por produtividade, a necessidade de demostrar felicidade e bem-estar a todo custo, o imediatismo que permeia as relações, a rapidez de acesso às informações, o desenvolvimento científico; enfim, este conjunto de fatores pode levar os sujeitos à busca por soluções rápidas e práticas aos problemas decorrentes dessa realidade.

Por todo o exposto, concluímos que a automedicação é um grande risco para a nossa saúde! Assim sendo, devemos sempre buscar a orientação de profissionais habilitados para realizar o diagnóstico e propor o melhor tratamento. No caso da saúde mental, essas intervenções passam pelo uso de medicações, mas certamente deve incluir outras condutas, podendo-se citar a realização de atividade física e, sobretudo, o acompanhamento psicoterápico. Em relação aos psicotrópicos, o uso consciente e sob orientação correta trará benefícios, tais como a melhora na qualidade de vida, sem representar um dano para os pacientes.

Referências Bibliográficas

  1. Wannmacher L. Condutas baseadas em evidências sobre medicamentos utilizados em atenção primária à saúde. Uso racional de medicamentos. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2012. p. 9-14.
  2. Domingues MG et al. Prevalence of self-medication in the adult population of Brazil: a systematic review. Rev. Saúde Pública. 2015; 49:36.
  3. Aquino D. Por que o uso racional de medicamentos deve ser uma prioridade? Cienc Saúde Coletiva. 2008; 13 (suppl):733-6.

Saúde Mental no contexto interdisciplinar

Texto pelo psiquiatra Dr. Fabrício de Oliveira.

* Por Dr. Fabrício de Oliveira

Saúde Mental no contexto interdisciplinar

Falar que os transtornos mentais são patologias muito freqüentes não é novidade. Várias projeções do aumento do número desses casos já são discutidos amplamente, havendo aqueles que defendam que a pandemia de doenças mentais será maior e mais duradoura do que a própria pandemia causado pelo novo corona vírus. Dentro deste contexto o valor do trabalho interdisciplinar nunca esteve tão evidente.

Por conta da Reforma Psiquiátrica potencializada pelo atual contexto global, ocorre gradualmente uma profunda transformação no eixo do tratamento das doenças mentais.

Os psiquiatras, até então, intensamente isolados em suas práticas passaram a se integrar com outros profissionais da saúde. Um argumento simples para sustentar tal mudança é o inequívoco fato que as informações colhidas com um profissional que tenha maior contato com o paciente pode mudar toda uma forma de perceber a situação e possibilitar enxergar integralmente o paciente.  A comunicação com outros profissionais (por exemplo, enfermeiros, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, psicólogos entre outros) é importantíssima e desloca a centralização do cuidado da doença para o processo de adoecer e para a pessoa doente.

PLANEJAMENTO DE TRATAMENTO

O modelo de interconsulta psiquiátrica na qual o profissional atua de forma mais episódica e mais reducionista está perdendo espaço. Além disso, desse profissional é exigido não só a capacidade de dialogar com a equipe de saúde, mas também é necessário saber de forma mais consistente o que o sistema de saúde e a equipe podem oferecer para elaboração de um planejamento de tratamento. Não podemos nos esquecer da realidade de cada local e de cada indivíduo, sempre de forma empática.  As limitações do nosso sistema de saúde batem às portas de todos.

Citarei alguns serviços essenciais oferecidos por alguns profissionais a seguir. A psicologia da saúde pode promover a saúde no três níveis de intervenção (primário, secundário e terciário). As intervenções podem ser voltadas ao paciente em si, bem como no manejo da equipe com relação à pessoa que está recebendo o tratamento.

O TRABALHO INTERDISCIPLINAR

Através da atuação do psicólogo o plano terapêutico de outras áreas poderá ser colocado em prática. Esse profissional pode promover “a tradução” e compreensão dos procedimentos aplicados. Já a atuação do serviço social possui seus desafios próprios. Não é raro encontrar quem, ainda hoje, associe a profissão à ajuda ou caridade.

De forma bem simplificada, o serviço social é a profissão que lida com pessoas, em especial, com as dificuldades por elas apresentadas em relação à vida e à sobrevivência. Realiza a mediação com outros profissionais, serviços e equipamentos sociais e diferentes políticas públicas. Sabe-se que muitos quadros de saúde mental são intensificados por conta de condições sociais. Dessa forma, seu trabalho é imprescindível.

O enfermeiro é o profissional que mais tempo permanece com o paciente e a família, sendo o agente principal para estabelecer limites e orientá-los com relação aos seus direitos e responsabilidade relativas ao tratamento. Os terapeutas ocupacionais podem atuar em diversos níveis do tratamento (prevenção, tratamento, reabilitação, promoção de saúde e inclusão social). Com um acompanhamento adequado, poderá avaliar e/ou melhorar as atividades funcionais dos pacientes como as atividades básicas de vida diária (ABVD) e as atividades instrumentais da vida diária (AIVD).